Captura predatória de caranguejo em Guaratiba pode levar à extinção da espécie


Pela portaria 52 do IBAMA durante o mês de outubro e novembro é proibida a captura, a manutenção em cativeiro, o transporte, o beneficiamento, a industrialização, o armazenamento e a comercialização do caranguejo-uçá oferecido nos restaurantes de Barra de Guaratiba. No mês de dezembro somente podem ser capturados os indivíduos machos da espécie, ficando proibida a captura de fêmeas, e isso vale também para o guaiamum.
Sendo que para o guaiamum, a restrição é maior. A captura, manutenção e comercialização estão proibidas entre outubro e março para indivíduos de ambos os sexos. Durante o restante do ano, o tamanho mínimo para captura é de 8 cm. Durante o defeso, os catadores de caranguejo têm direito a um seguro da Previdência Social, e talvez seja por isso que esse período de defeso seja tão curto. O fato é que alguns entendidos nesse assunto já disseram que esse período de defeso é insuficiente para a proteção das espécies.
Os caranguejos e seus parentes próximos, que vivem nos manguezais de Guaratiba assim como em todo o litoral brasileiro, são fundamentais para a manutenção da vida no ecossistema do manguezal tão frágil e tão ameaçado em nossa região, o que vem sendo afirmado por vários estudos que encontramos aqui mesmo na internet.
Segundo um estudo de Edison Barbieri e Jocemar Tomasino Mendonça do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Litoral Sul, os caranguejos são grandes contribuintes na criação de condições de vida para a flora e a fauna do mangue. Quando os caranguejos fazem suas tocas, revolvem o solo mais profundo, oxigenando e distribuindo nutrientes, que depois serão levados para o mar com as cheias e vazantes de maré. O caranguejo-uçá tem um papel fundamental na manutenção do equilíbrio do mangue. Alimentando-se principalmente de folhas velhas e amareladas que caem das árvores do mangue, ele devolve ao ambiente matéria orgânica rica em nutrientes. E não é apenas consumindo as folhas que o uçá colabora no enriquecimento do mangue, mas também fazendo um estoque de folhas nas galerias. Assim, a matéria orgânica fica retida no manguezal e não se perde quando a maré fica vazante e as águas começam a baixar.
A diminuição do número de caranguejos-uçá pode tornar inviável a vida de outras espécies da fauna do mangue. É o caso do caranguejo violinista, que se alimenta dos restos de matéria orgânica da alimentação do uçá. Toda uma cadeia alimentar depende da atividade destes crustáceos, e a degradação dos mangues e extinção dos caranguejos significa destruição desse ciclo, em que a atividade da pesca será a primeira a ser afetada.
Assim torna-se evidente que a sobrevivência do manguezal pode estar ligada à própria sobrevivência do caranguejo. É fácil verificar que nosso manguezal, pouco a pouco vem desaparecendo, seja pela poluição, pela ocupação sorrateira e pela eliminação das espécies que o preservam, como é o caso dos crustáceos, tema desta matéria. Por isso, não custa nada alertar para um fato que vem acontecendo na região e que pode acelerar em muito a extinção do caranguejo.
A catação predatória de caranguejo vem descaradamente acontecendo na região e pode sem que percebam, prejudicar os próprios atores do delito. O método de braceamento para captura do crustáceo, ou seja, enfiar o braço na toca, que era usado antigamente está sendo substituído por uma armadilha chamada pelos catadores de "redinha", confeccionada a partir de fios de nylon desfiados de um daqueles sacos de farinha. Esse método, segundo um levantamento que fizemos na região, veio trazido de catadores do litoral norte que aqui chegaram trazendo a técnica. O método é simples, mas terrivelmente prejudicial ao eco sistema, como vamos mostrar, e o que é mais grave, proibido pela portaria 52 do IBAMA.
Não vamos divulgar a técnica para que não se propague ainda mais, entretanto podemos detalhar a instalação para que possam entender como é prejudicial esse método. Espetam esse apetrecho simples na toca do caranguejo que ali se embaraça e fica fácil sua captura. Cada pescador chega a armar 130 armadilhas destas em um dia, e o mais grave é que para armar a tal redinha o pescador quebra dois pedaços de raiz de mangue de aproximadamente 75 cm, prejudicando a árvore. Dessa forma, a planta é prejudicada em sua sustentação no solo, sua respiração e na produção de substrato e abrigo para inúmeras espécies que fazem parte da cadeia alimentar desse ecossistema.
Conversamos recentemente com um catador de Guaratiba que nos disse:
- "Hoje armei 200 redinhas e peguei 180 caranguejos" (!)
Agora vamos aos fatos e resultados dessa ação predatória, muito bem estudada pelos pesquisadores Emanuel Roberto de Oliveira Botelho, Maria do Carmo Ferrão Santos e Antônio Clerton de Paula Pontes a que tivemos acesso e transcrevemos apenas o trecho que analisa o desastre ambiental. Analisaram os pesquisadores que:
Segue texto....
"Cada catador de caranguejo uçá utiliza, em média, 130 redinhas / dia, dedicando 18 dias por mês à cata deste crustáceo. Ao longo de um ano, cada catador utiliza 28.080 redinhas, que correspondem a cerca de 20 kg de fios de nylon que, após a captura, são jogados no manguezal ou no seu entorno, além, de 42.000 metros lineares de raiz de mangue cortada para a fixação das armadilhas, sem contar com a quantidade de mangue cortado para ser utilizado nas marcações destas, além das armadilhas perdidas (estimadas em 15%), as quais ficaram fixadas nas tocas".
O método leva à captura excessiva de caranguejos, sem distinção de fêmeas e indivíduos jovens, a destruição do manguezal pelos próprios catadores que utilizam esse método, assim fica evidente quando se analisa sob a luz fria dos números o desastre ambiental. É preciso urgentemente desenvolver uma campanha de esclarecimento e conscientização da população que vive do mangue para esse problema, pois em curto prazo não vamos mais ter um mangue para proteger.

FONTE PORTAL DE GUARATIBA
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